quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Parabéns em Movimento (música)

Parabéns dos seus amigos

E do seu povo sem terra

Pelos vinte e cinco anos de história

Vinte e cinco primaveras.

Quando a bandeira vermelha subiu

O latifúndio tremeu!

Quando uma parte do campo floriu

A mãe terra agradeceu.

Dignidade rompeu a porteira

Sorriso de assentamento

Viva e reviva emiMST

Parabéns em movimento.

Parabéns dos seus amigos...

Quando a bandeira vermelha subiu

“As mudas romperam o silêncio”

Vem despertando nova consciência

Marcas de um novo tempo.

Mulheres e homens de punhos erguidos

Cantando a todo momento

Viva e reviva emiMST

Parabéns em movimento.

Quando a bandeira vermelha subiu

O sonho aconteceu

Colhendo os frutos da rebeldia

Um novo ser renasceu

Seguindo em marcha abrem caminhos

Rumo ao novo amanhecer

São vinte e cinco anos de luta

Viva emiMST!

Zé Pinto (oficina de música dos 25 anos do MST-SP)

*Nota: é "viva e reviva emiMST" mesmo, não foi nenhum erro de digitação.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Estradas, sonhos e você

Era finados de 1998,
era, então, 2 de novembro.
São Paulo fazia frio, mesmo não tanto chovendo.
Plataforma 47, disso ainda bem me lembro.
A saudade me cortava como fio de navalha,
mas eu e você sabemos
que me entreguei às estradas
eu, a viola e um sonho:
tentar aqui, acolá,
replantar na caminhada um rima
de resgate à cultura popular.
Bateram 22 horas,
embarquei pro meu destino
com coração de poeta.
Como riso de menino pensei nas Minas Gerais
com um horizonte tão belo!
Canto da minhas paradas,
canteiro do meu nascer,
regresso que sempre quero.
O ônibus ia seguindo...
seguia meu pensamento.
Com um assovio de lamento
do vento em minha janela
descansei minha viola
e, num tempo, pro seu sorriso
voltei sem fazer juízo
mulher companheira e bela.
Zé Pinto

Eu vi

No mundo em que vivo também os mortos não falam
pois até os vivos as vezes se calam.
Mas se falar pode ser crime,
preciso escrever, e escrever poemas.
Tentei, juro que tentei,
mas não pude viajar na fantasia.
Pensei escrever a beleza das praças,
mas os casais de namorados não estavam mais lá.
Tentei escrever em homenagem à catedral,
mas as crianças assassinadas só conheciam os caminhos da fome,
não conheciam os caminhos do céu.
E suas calçadas, manchadas de sangue,
esperam em vão que os matadores venham confessar seu crime cruel.
Corri contra o vento pra chegar a tempo de ver o luar,
mas os verdes campos que tanto sonhei
o fogo já tinha lambido da terra.
E as mãos calejadas que neles plantavam
a bala matou, a bala expulsou.
A concentração criou migração em grandes escalas.
E não mais arroz, e nem feijão,
pois naquele chão o boi virou rei.
E lá na cidade, de braços abertos,
a ilusão urbana, a fome esperava.
Pois no olhar da ganância nunca se viu lágrimas
por outra família sem riso e sem nada.
A chuva varando barracos sem teto
saindo em Brasília um novo decreto
sem nada de novo, sem nada de povo,
sei lá...
Nas margens da vida me pus a pensar:
são tantos humanos pra tão pouco lixo
e pra poucos cachorros, tanto caviar...
Mas não foi magia, nem ilusão,
Talvez seja a força dessa negação:
mas vi cantadores fazer cantoria,
o dia não tinha mais medo da noite.
Eu vi namorados voltando às praças,
e vi poesia brotar como flores,
eu vi assassinos pagar por seus crimes,
e vi meu Brasil numa pátria sem dores.
Eu vi operários voltando às fábricas
e vi lavradores voltando pra terra,
sem cercas, sem fogo, plantando outras eras...
E o lobo Yank gritou de repente:
- O que aconteceu???
E uma criança, quase adolescente, foi quem respondeu:
- Foi o nosso sonho que virou semente,
e brotou mais gente, e brotou mais gente,
e brotou mais gente....
Zé Pinto

Sem dúvida

O que escrever um poeta na mesa de um bar?
Escreva o destino ou a partida
de quem vive a vagar.
Escreva pra bela moça, bem ali na outra mesa,
escreva para o garçom,
trabalhador com certeza.
Escreva para o patrão
ou pro preço da despesa.
Escreva para o conhaque, pra cerveja, pra cachaça.
Escreva pro cachorrinho de uma madame que passa.
Mas não escreva a beleza da praça,
pois a beleza da praça, melhor escrever na praça.
Também não escreva pra embriaguês:
os ébrios só cantam pro tempo passar.
Jamais se esqueça da dita verdade,
escreva revolta, mas não vaidade.
Poeta que vive em cima do muro
enxerga no claro, escreve no escuro,
escreve miséria, escora no lucro.
Não sabe buscar lições no passado,
nem vê no presente um jeito decente
de pixar no muro, perto do futuro,
povo libertado.
Zé Pinto.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Não nos faça essa maldade

Se queres lavar meu prato
só porque tu és mulher
imploro-te de joelhos
não nos faça essa maldade.
Reforçar esse machismo
nunca trará recompensa.
Se a consciência tem flores
mas também dita a sentença
nem deveria viver
quem te faz reconhecer
que teu caminho é apenas
entre o fogão e a despensa.
Zé Pinto